quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Tumor desmóide da parede abdominal durante a gravidez

RESUMO
Tumores desmóides são neoplasias do tecido conjuntivo, caracterizadas por apresentarem crescimento exclusivamente loco-regional, recorrência freqüente e mínimo potencial metastático. Acometem principalmente portadores de polipose adenomatosa familial dos cólons, sendo sua ocorrência isolada extremamente rara. São mais freqüentes nas mulheres em idade reprodutiva e durante a gravidez. Descreve-se um caso de tumor desmóide de grandes proporções, localizado na parede abdominal, que surgiu a partir da 17ª semana em gestante sem antecedentes de polipose adenomatosa familial. A neoplasia foi totalmente extirpada utilizando-se prótese de polipropileno para reconstituição da parede abdominal. Atualmente a doente encontra-se bem, um ano após a cirurgia, em uso de antiinflamatório não hormonal para prevenção de recidivas.

Mulher branca, com 26 anos, secundigesta, com antecedentes de cesariana há quatro anos, notou a partir da 17ª semana de sua segunda gravidez o aparecimento de tumor localizado na face anterior do abdômen, no hipocôndrio esquerdo, inicialmente de pequenas dimensões e que apresentou crescimento importante no último trimestre de gestação. Deu à luz por meio de cesariana em 30 de abril de 2003, indicada por pós-datismo, a RN eutrófico pesando 3.860 g. Não foi realizada a ressecção cirúrgica do tumor concomitante ao parto. Apresentou evolução pós-operatória favorável, recebendo alta hospitalar no 3º dia após o parto. Durante o acompanhamento puerperal houve crescimento acentuado do tumor passando a provocar desconforto e dor à compressão local. Negava antecedentes de trauma abdominal no local do tumor antes ou durante a gestação bem como não possuía antecedente familiar de PAF. Ao exame físico apresentava-se em bom estado geral negando perda ponderal expressiva. Em 27 de novembro de 2003 o exame físico do abdome revelava tumor com 8,0 por 7,0 centímetros de diâmetro, localizado no hipocôndrio esquerdo, que se iniciava três centímetros abaixo do rebordo costal, estendendo-se, no sentido caudal, até a cicatriz umbilical. O tumor possuía consistência firme e mobilidade limitada, sendo doloroso à compressão. A pele que recobria o local encontrava-se preservada, sem sinais inflamatórios ou de infiltração neoplásica.
A radiografia simples do abdome em posição ântero-posterior mostrava opacidade na região correspondente à lesão, sem áreas de calcificação, não permitindo afastar o comprometimento de órgãos da cavidade abdominal. A tomografia computadorizada do abdome demonstrava imagem hipodensa, sólida, arredondada, de contornos regulares, medindo 9,0 x 7,5 cm, localizada na parede abdominal anterior na topografia do músculo reto abdominal, com preservação da pele e do peritônio parietal, não havendo sinais de extensão para a cavidade abdominal. O tumor provocava compressão extrínseca, deslocando o estômago no sentido posterior. Os demais aspectos tomográficos intra-abdominais eram normais (Figura 1).


Devido à possibilidade de tratar-se de neoplasia maligna e pelo risco potencial de disseminação, não foi realizada biópsia por punção percutânea, optando-se pela excisão cirúrgica em monobloco, realizada em 4 de novembro de 2003. A ressecção foi realizada por meio de incisão longitudinal, elíptica, englobando pele, tecido celular subcutâneo e o folheto anterior da aponeurose do músculo reto abdominal, que se encontrava espessado e com aumento da vascularização na região da neoplasia. O tumor foi totalmente extirpado, respeitando-se margem cirúrgica de dois centímetros (Figura 2).




O folheto posterior da aponeurose do reto abdominal também apresentava a mesma proliferação vascular, havendo, contudo, nítido plano de clivagem com o peritônio parietal, que não foi seccionado. A extirpação resultou em área de aproximadamente 15 cm de extensão longitudinal e 10 cm de extensão lateral desprovida de todas as camadas musculares da parede abdominal. Para reconstituição do defeito cirúrgico resultante utilizou-se tela de polipropileno fixada nos folhetos músculo-aponeuróticos remanescentes do músculo reto abdominal, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso. Em virtude do extenso descolamento tecidual necessário para fixação da prótese optou-se pela colocação de dreno tubular de sucção contínua exteriorizado por contra-abertura.
O exame macroscópico revelou massa nodular, de coloração vermelho-esbranquiçada, consistência firme, desprovida de cápsula, com exuberante proliferação vascular, medindo 10,5 x 10 cm e pesando 550 g. À secção longitudinal o tumor era sólido, pardo-esbranquiçado, com áreas centrais de aspecto edematoso e localizado entre os folhetos anterior e posterior da aponeurose do músculo reto abdominal. O exame microscópico demonstrou lesão mesenquimatosa composta predominantemente de células fusiformes em arranjo estoriforme com núcleos pleomórficos e raras figuras de mitose. O interior da lesão, ao contrário da sua zona periférica, apresentava baixa celularidade. Estas células encontravam-se imersas em estroma fibroso com tonalidade basofílica, rico em colágeno e que assumia padrão fibrilar e reticular. Nas regiões mais periféricas a neoplasia mostrava íntima relação com fibras musculares estriadas comprimidas, atrofiadas, e de permeio, tecido adiposo maduro. Diante dos achados pôde-se firmar o diagnóstico de fibromatose extra-abdominal desmóide (tumor desmóide).
Após a intervenção cirúrgica a doente apresentou evolução satisfatória, tendo recebido alta no 4º dia pós-operatório, em 28 de dezembro de 2003. A partir do primeiro retorno ambulatorial, com o diagnóstico estabelecido de tumor desmóide, passou a receber anti-inflamatório não hormonal (sulindac) na dose de 400 mg/dia para prevenção de recidivas e omeprazol 40 mg/dia para proteção gástrica. O antiinflamatório foi mantido na dose inicial por seis meses e a partir de então reduzido para 200 mg/dia. No momento de seu último retorno, em três de fevereiro de 2005, encontrava-se bem, em uso de sulindac, sem sinais clínicos ou tomográficos de recidiva da doença.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-72032005000500009&script=sci_arttext

4 comentários:

  1. Boa Tarde! Faz 15 dias que fiz uma rececção na região da cesária para tirar um nódulo a biópsia deu que era tumor desmóide, esse nódulo surgiu logo apos a cesária...que faz 1 ano...por enquanto estou aguardando para continuar o tratamento...mas estou positiva!

    ResponderExcluir
  2. Boa Noite Gleice, desculpe a demora em lhe responder.
    Entre em contato e nos conte como q esta o andamento do seu tratamento, me manda noticias pelo email: fernanda-cunha2@hotmail.com

    ResponderExcluir
  3. andrea bonfim boa noite fui operada de um tumor desmoide, apos 2 anos do nascimento de meu filho, por uma margem de erro tenho que fazer um acompanhamento pelo resto da vida, sei que já passei pelo pior mas não sei se vou aguentar continuar, vou largar nas mãos de deus.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Andrea, desculpe a demora em lhe responder por aqui.
      Fique bem, tudo irá se ajeitar, tenha fé, e tenho certeza que vc terá forças para continuar sim, Deus é contigo.
      Abraço!

      Excluir